"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir." (Fernando Pessoa)
Às vezes a vida parece uma tragédia grega, e nós, enquanto melancólicos personagens desta singular peça, simulamos um sofrimento que deveras nos atordoa.
Tenho sido protagonista do drama que escrevo a cada dia, embasada nos traumas advindos das decepções sofridas e na tristeza que de mim se apodera quando sinto-me vencida pelas circunstâncias.
A solidão é parte fundamental do cenário, que friamente assiste ao meu padecer e me faz companhia enquanto agonizo à espera do "Trem das Sete".
Minhas esperanças se vão com a luz do dia, e o céu de cor cinzenta parece refletir a angústia expressa em cada traço do meu rosto que, desolado, busca nas nuvens uma explicação plausível para os sucessivos males por mim testemunhados.
Durante a peça, o que se manifesta da maneira mais hipócrita é o meu sorriso, que de tão medíocre não consegue esconder meu lastimável estado íntimo.
Enquanto derramo sinceras lágrimas no palco da minha insensatez, vejo um ser cheio de luz deslocar-se da platéia, vindo em minha direção. Ele delicadamente se aproxima de mim e com suas mãos afáveis enxuga o meu pranto. Olha no fundo dos meus olhos enxarcados de dor e diz:
"Erga a cabeça, renove sua fé e corra atrás dos seus sonhos. A peça ainda não chegou ao fim..."
Neste instante eu percebi que aquele ser dotado de uma luz ofuscante e grandiosa, era na realidade o dono da vida, representada na forma de um drama, do qual todos participam, tendo ou não alma de artista.