25 julho 2010

Compartilhando Amarguras

"Quanto vale a vida perdida e sem razão/Num beco sem saída, quanto vale a vida?"
Uma vez disseram-me que o pior de todos os cansaços, era o severo cansaço existencial. Hoje compreendo melhor essas palavras. Qualquer tese deixa de ser abstrata e é melhor apreendida quando se vivencia a mesma, quando o que antes parecia longínquo, passa a fazer parte do nosso cotidiano, como o tal cansaço existencial passou a fazer parte do meu.
Quando crianças, nossas frustrações se limitam a um brinquedo que nos é negado, ou a um castigo que nos é imposto. Crescemos e nos deparamos com desapontamentos cada vez mais agudos, e infinitamente piores que nossas frustrações pueris.
Sucessivos tropeços nos deixam perenes cicatrizes. Decepções mortificam nosso âmago. E, como se não bastasse, o mundo nos penaliza dia após dia com uma desigualdade sem fim... Vivendo em tais condições, molestados pelas circunstâncias, não é espantoso que cansemos de existir.
Nas noites frias e solitárias, chego a conversar com o vento. Peço que me leve consigo para onde eu possa sentir um prazer existencial que me faça esquecer o cansaço de outrora, e me possibilite desfrutar da felicidade pura que buscamos incessantemente nesse mundo atroz.
Quero um dia poder olhar para trás e rir de tudo o que me faz padecer: desse universo corrompido, dessa humanidade mesquinha, dessa vida sem sentido.

11 julho 2010

Revolta e Nostalgia

"Bem-aventurados sejam os senhores do progresso/Esses senhores do regresso..."
Essa é a Era da tecnologia e da precariedade moral, das crises de super-produção e dos miseráveis que morrem de fome dia após dia. Eu falo da Era dos rótulos atraentes e dos conteúdos vazios, das aparências impecáveis e dos cérebros ocos. Era da industrialização e da atmosfera podre, da globalização e do aquecimento global que, paradoxalmente, nos deixa cada vez mais frios. Trata-se da Era dos lucros gigantescos e dos casamentos falidos, do consumo exacerbado e da miséria abundante. Era de infindáveis festas e igrejas vazias, das revoluções científicas e do comodismo hereditário. Eu falo da Era da juventude fútil, das famílias desmembradas, da hipocrisia reinante. Era do medo, da indecisão, do egoísmo e da maldade. Quero voltar pra minha Era, pra Era de onde nunca deveria ter saído...

10 julho 2010

Entre Um Acorde E Uma Canção

"A vida é mesmo assim/Dia e noite, não e sim".
Não me faça perguntas. Não tenha sede de descobrir quem realmente sou. Talvez nem eu mesma saiba. Dê-me um beijo na testa antes de partir. Dispenso flores e bilhetes de despedida. Não me alimento de palavras. Poetas jamais me seduziram. Poucos homens, por sinal, conseguiram fazê-lo. Você foi um deles. Mas não pense que por isso me cairei aos seus pés, ou esquecerei suas mentiras, seu jeito ambíguo de ser, sua indecência intrínseca...
Não nego, contudo, o bem que sua presença me faz, o desejo que arde em meu corpo quando de mim se aproxima, e a tristeza que me entorpece cada vez que se vai... Conhecendo a dor que sua ausência me traz, peço em pensamento que não me deixe, embora seja orgulhosa demais para suplicar-lhe que fique.
Essa noite valeu por uma vida inteira. O vinho, as carícias, os risos, as confissões ao pé do ouvido, os psicodélicos beijos, a proximidade, o toque, o cheiro, a euforia, o magnetismo que entrelaçou nossos corpos, a ida efêmera ao paraíso e o lento retorno à Terra. Ainda que eu corra o risco de despertar e não te ver, essa noite ficará registrada como a mais completa das noites que tive.
O sol irá nascer, trazendo consigo um novo dia, recheado de surpresas, escolhas e desejos. Talvez você não esteja mais entre os meus. Talvez se transforme na remota lembrança de um passado do qual fez parte. Ou pode ser ainda que o amanhecer não consiga arrancar-lhe de minh'alma. Não sei o que o amanhã reserva pra mim, nem pra você, nem pra ninguém. "O futuro a Deus pertence", não é mesmo? Só peço que não se esqueça de dar-me um beijo na testa e fechar a porta antes de sair.

04 julho 2010

O Mundo Pertence Aos Que Acreditam...

"You may say I'm a dreamer/But I'm not the only one" (Imagine-John Lennon)
Não me identifico com esse mundo hostil, tampouco com os seres frios e egoístas que ele habitam. Não vejo graça na TV, no carnaval, no futebol, nem em nenhum outro instrumento de alienação dos pouco esclarecidos.
A desigualdade me incomoda como uma dor de dente, ou uma enxaqueca irremediável. Ver a miséria e a violência dominando o mundo, me faz padecer como quem assiste, de mãos atadas, à morte de um ente querido.
O que em mim pensa está sentindo que não há mais saída, que estamos todos por um fio. Mas no meu peito um coração sonhador, que bate cada vez mais apertado, insiste em me lembrar que enquanto o sol brilhar, uma luz insólita nos fará enxergar a solução oculta pelas sombras do nosso pessimismo intrínseco.
Eu que confio cegamente na filosofia desse meu coração, volto a ter esperança, a crer num mundo melhor, igualitário e pacífico, onde as pessoas se alimentam do bem que fazem ao próximo, e a união se sobrepõe diante das diferenças. Eis o mundo dos meus sonhos. Eis o mundo dos sonhos de grande parte dos meus semelhantes.
Utopia? Loucura? Chame do que quiser! Quero apenas lembrar-lhe, caro leitor, que as grandes revoluções da História foram lideradas por vigorosos sonhadores (ou loucos, como preferir). São essas almas que movem o mundo e devolvem a esperança a quem cansou de esperar.