03 agosto 2009

Mensagem do Além...

"HÁ MAIS COISAS ENTRE O CÉU E A TERRA DO QUE SONHA NOSSA VÃ FILOSOFIA."
Estava desnorteado. Era a ovelha negra da família, sua vida amorosa sempre foi uma piada (envolveu-se com a mulher do delegado e o trágico fim do romance proibido lhe custou dois tiros na perna; pouco tempo depois flagrou sua namorada aos beijos com uma "baleia" de bigode) e, como se não bastasse, acabara de ser demitido, acusado de roubo, algo que jamais faria, por temer, demasiadamente, a Deus e à sua própria consciência, que nunca perdoava seus equívocos.
Queria afogar as mágoas em consecutivos copos de cerveja, mas logo lembrou-se da promessa feita no Natal, que o cerceava de colocar uma gota sequer de álcool na boca. Avistou o cemitério em que seu pai fora enterrado e, subitamente, um desejo insano de ir ao encontro daquele amontoado de túmulos apoderou-se de sua extenuada alma. Sempre foi fiel aos seus desejos e promessas, e essa fidelidade o guiou até a residência das sombras.
Sentou em um túmulo qualquer e lá estava a observar o céu e refletir sobre sua problemática existência, quando uma doce voz lhe chamou a atenção:
"Que fazes aqui a esta hora, moço ?"
Voltou-se para a dona da voz mais meiga que já ouvira e ralhou:
"Olhe aqui, eu não tenho medo de assombração, mas seja lá o que for, fique longe de mim! Hoje eu não tô pra ninguém."
A moça usava um vestido azul, florido como o mais belo dos jardins, tinha o rosto angelical e os olhos "vivos".
"Desculpe, eu não queria te deixar zangado."
Fitou o chão e se pôs a andar, sem saber ao certo onde queria ir.
"Espere! Não tem que se desculpar. Eu é que lhe devo perdão pela grosseria; é que eu não tô nada bem. Minha vida piora a cada dia e eu me sinto incapaz de reverter isto."
"Incapaz? Não fales tamanha bobagem! Os limites só existem em tua ludibriada mente. Viver transcede obstáculos e frustrações; é mais que prender-se a enganos e ser escravo da convenção. Viver é ter o universo nas mãos, sentir o sol, sorrir para a lua, abraçar o vento e cheirar as flores. Viver é entender a acústica dos sentidos e uni-los na mais sublime harmonia... Viver é sonhar com dias melhores, cantarolar com os pássaros, sentir a chuva caindo, amar e ser amado..."
"Nossa, me admira o modo como fala da vida. Presumo que viva maravilhosamente bem!"
"Vivi, meu caro. Não por muito tempo, deveras. Mas o bastante para compreender o valor da vida e do 'estar vivo'. Espero que descubras quão esplêndido é viver antes que a morte lhe bata à porta. Carpe Diem, rapaz! Carpe Diem..."
E assim ela se foi, do mesmo modo misterioso como surgiu. Quanto a ele? Embora um tanto confuso e assustado, entendeu o que ela quis dizer.