10 julho 2010

Entre Um Acorde E Uma Canção

"A vida é mesmo assim/Dia e noite, não e sim".
Não me faça perguntas. Não tenha sede de descobrir quem realmente sou. Talvez nem eu mesma saiba. Dê-me um beijo na testa antes de partir. Dispenso flores e bilhetes de despedida. Não me alimento de palavras. Poetas jamais me seduziram. Poucos homens, por sinal, conseguiram fazê-lo. Você foi um deles. Mas não pense que por isso me cairei aos seus pés, ou esquecerei suas mentiras, seu jeito ambíguo de ser, sua indecência intrínseca...
Não nego, contudo, o bem que sua presença me faz, o desejo que arde em meu corpo quando de mim se aproxima, e a tristeza que me entorpece cada vez que se vai... Conhecendo a dor que sua ausência me traz, peço em pensamento que não me deixe, embora seja orgulhosa demais para suplicar-lhe que fique.
Essa noite valeu por uma vida inteira. O vinho, as carícias, os risos, as confissões ao pé do ouvido, os psicodélicos beijos, a proximidade, o toque, o cheiro, a euforia, o magnetismo que entrelaçou nossos corpos, a ida efêmera ao paraíso e o lento retorno à Terra. Ainda que eu corra o risco de despertar e não te ver, essa noite ficará registrada como a mais completa das noites que tive.
O sol irá nascer, trazendo consigo um novo dia, recheado de surpresas, escolhas e desejos. Talvez você não esteja mais entre os meus. Talvez se transforme na remota lembrança de um passado do qual fez parte. Ou pode ser ainda que o amanhecer não consiga arrancar-lhe de minh'alma. Não sei o que o amanhã reserva pra mim, nem pra você, nem pra ninguém. "O futuro a Deus pertence", não é mesmo? Só peço que não se esqueça de dar-me um beijo na testa e fechar a porta antes de sair.

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