27 março 2010

Uma Conchinha Em Meio ao Perpétuo Fluxo das Águas do Mar

"Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, tudo muda o tempo todo no mundo..."
Sei o quanto a mudança se faz necessária. Se a borboleta não sofresse metamorfose, seria para sempre uma ínfima lagarta, não teria asas mágicas, capazes de nos entorpecer com seu brilho e sua flexibilidade. Seria apenas uma lagarta úmida e flácida, como tantas outras.
Heráclito, um dos mais brilhantes filósofos da História, percebeu que o "devir", o incessante fluxo, a mudança, estavam presentes em todas as coisas e seres. Descobriu que a vida se baseia na "luta dos contrários" e na ideia de que tudo flui (nada permanece igual para sempre).
Eu compartilho de sua tese, mas não oculto a intrínseca dificuldade que tenho em lidar com essas sucessivas transformações. Isso se deve ao péssimo hábito que possuo de me apegar a momentos, situações e pessoas, tudo o que, indiscutivelmente, flui.
Quando a mudança se dá, fria e veloz, os momentos são postos no baú das reminiscências, as situações adquirem novos aspectos e as pessoas dão uma faxina geral em seu íntimo, desprezando algumas ideias e reciclando outras, edificando concepções e quem sabe até mudando de comportamento.
Parece ridículo, mas eu tenho medo de mudar. Deixar as coisas fluírem, desapegar, é o meu desafio mais complexo. O dinamismo me aborrece. Mas sei que o problema não está nele, nessa fluidez contínua, o problema está em mim, no meu recôndito comodismo, nesse meu medo de arriscar, na minha insegurança íntima.
É preciso que eu me permita mudar, jogar fora tudo o que me entristece, abrir mão do que não me satisfaz por inteira, dessas migalhas que me subnutrem, pois só assim vou me sentir livre, completa e, inteiramente, feliz... Espero que Ele me ajude nessa indispensável empreitada.

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