25 março 2009

Civilização Manchada de Sangue

Cuspiram na sua cara, o chamaram de animal, obrigaram-no a pedir perdão de joelhos. Ele obedeceu, sem ao menos saber por que o fazia. Tinha os olhos sangrando de raiva. As surras o debilitaram a ponto de mal conseguir se mover, e ainda assim uma voz fria bradava:
"Mais vinte chibatadas!"
"Nããão! Pelo amor de Deus, seu moço! Ele não vai aguentar mais vinte." _ suplicou, em meio a incessantes lágrimas, sua mulher, cuja aparência desforme e os olhos mortos refletiam os sofrimentos aos quais fora submetida desde sua vinda ao mundo.
Os gritos, as lágrimas, de nada adiantaram. Da pele negra jorrava sangue, dos lábios secos saíam algumas sofríveis sílabas, precisamente duas: Por quê? Dos olhos insípidos caíam lágrimas de revolta e dor, até que se fecharam. Seu coração se fechou.
Nem deixaram a família enterrar o corpo. Disseram que queimá-lo era mais ponderável. Do destino de sua pobre alma, nada sei. Apenas torço para que a sociedade celeste não seja e s c r a v o c r a t a...

Um comentário:

Vinícius Rodovalho disse...

Não há de ser, Rhay. Escravismo me parece tão "a cara" do ser humano, que soa estranho imaginá-lo em outros campos, sejam eles celestes, extra-terrenos ou quânticos.

Aproveitando o ensejo das teorias Darwinistas, falemos dele. De fato, dele; não das teorias. Dizem que, durante sua famosa viagem, pela qual passou pelo Brasil, não pôde conter sua repulsão à nossa sociedade de então. Escravocrata, afinal. Injusta, some-se.

Nem adianta dizer que foi um tempo, que passou, que não vota mais. Realmente, foi. Mas os resquícios estão aí, até hoje. As cotas, por exemplo. Não sei qual a sua opinião, mas eu acredito que são uma tentativa frustrada de mascarar um problema ainda maior, dos tempos da escravidão.

A alma humana ainda tem muito a aprender. Machado que o diga, né? Encerro à moda de José Dias, já que tocamos no Machado: Belíssimo texto. :)

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